Prece de um Combatente
Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial
de: Manuel Luís Rodrigues Sousa
Sinopse
Pela Pátria…
- Fomos arrancados ao convívio dos entes queridos, interrompendo e adiando promissores projectos de vida;
- Vivemos a pungente despedida do zarpar lento de um navio, pejado à proa de lenços brancos a acenar para outros que se agitavam no cais, pairando a incerteza de, um dia, podermos ali voltar;
- Aportámos em terras de África, cujo clima nos causticou a pele e nos tornou pasto fácil para turbilhões de insaciáveis insectos;
- Estreitámos relações com as populações nativas e as suas crianças que, no dia a dia, nos surpreendiam com os seus rituais, a sua cultura;
- Não resistimos à beleza das bajudas, (raparigas) vivendo com elas romances de “amor em tempo de guerra”;
- Calcorreámos trilhos e picadas, ora sob poeira asfixiante e calor intenso, ora sob chuvas tropicais diluvianas;
- Transpusemos linhas de água e pantanosas bolanhas que quase nos submergiam;
- Passámos fome e sede, bebendo, muitas vezes, a água insalubre das bolanhas;
- Fomos acometidos de doenças tropicais;
- Vimos rebentar minas sob viaturas e companheiros de armas, as quais deixavam rasto de destruição e de morte;
- Rastejámos e irrompemos sob o fogo intenso inimigo, debaixo do arrepiante sibilar das balas e dos estilhaços das granadas, ora a atacarmos, ora a defendermos;
- Como toupeiras impregnadas de pó ou de lama, abrigámo-nos do fogo inimigo nas labirínticas trincheiras dos quartéis, defendendo essas nossas posições;
- Vimos companheiros no campo de batalha a agonizar, balbuciando as últimas palavras que guardamos na alma como fiéis depositários;
- Disparámos para não morrermos;
- Pairaram sobre nós vorazes abutres, atraídos pelo sangue que nos jorrava da carne rasgada;
- Honrámos o nome dos companheiros que tombaram em combate, gravando-os de forma indelével em singelos monumentos, autênticas obras d’arte disseminadas no chão colonial africano;
- Sofremos mazelas físicas e psicológicas que nos vão acompanhar durante o resto da vida;
- Tivemos saudades que desfiámos em longas missivas na troca de correspondência com os familiares, namoradas e madrinhas de guerra, além do célebre “adeus até ao meu regresso”, difundido através da Rádio Televisão Portuguesa na quadra natalícia;
- Fomos irreverentes, brigámos, brincámos, rimos, cantámos e chorámos;
- Finalmente chegámos de regresso ao cais onde ternos abraços de saudade nos cingiram, contrastando com o drama daqueles que não tiveram a mesma ventura de abraçar os nossos companheiros, em cujo navio os seus lugares vieram vazios.
- Enfim, com sublime abnegação, tudo isto foi, por ela,
… LUTAR!