Sombras… nada mais!
Romance
de: João Sena
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Sinopse
Era o paraíso! Visto do lado do mar o panorama é maravilhoso: os rochedos em cutelo, fragas vivas, em alcantilados, cortados a pique, até às minúsculas praias, rendilhadas de enseadas. intercalam-se e sucedem-se, na harmonia de luz e sombra, no claro-escuro, na pausa e no vendaval, do sonho e do efémero, onde as grutas profundas penetram na preamar para esponsais com o oceano. As encostas, de corcovas bizarras, são verdes de luxuriosa vegetação silvestre. Por toda a parte arbustos, nascidos no vento, fazem-se árvores, aproveitando o orvalho e a geada que ficou da noite. Esconderam-se e erraram nas suas sombras, como noutros tempos os ermitãs e pensadores, homens acossados e animais feridos. Entre as pedras cobertas por musgos e habitando as celas estreitas do Conventinho da Arrábida, santuário alcandorado no meio da encosta virada a sul, entre alcantis e ciprestes, passaram, e também viveram e morreram, sábios e ignorantes, filósofos, santos e pecadores. Presas e predadores. Quando o luar banha a baía e o vento de norte não encarpela as águas, a baía é um lago espelhado. Mas, nas noites de temporal, com o vento inclemente e duro, com a chuva impiedosa a entrar pelas árvores, pelos musgos e encharcando a terra, os medos acoitam-se nas fragas. São as noites dos lobos, dos carneiros chacinados e dos foragidos. Em nenhum lugar a noite é mais noite e o negrume mais negro. Quando a madrugada chega e se não há nevoeiro, o sol rompe as trevas e com os seus raios rasantes vai amolecendo a desgraça. Por fim, o mar fica tranquilo.