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de: Alberto Melo
Quando atingi o chamado “limite de idade” e me deram por “inapto para todo o serviço público”, passei à reforma e à “plena propriedade” do meu tempo. Comecei então a ser assediado, no sentido mais amável deste mundo, para escrever as memórias. Diziam os amigos que era necessário que descrevesse e analisasse as muitas experiências decorridas ao longo das minhas múltiplas vidas, por países diferentes (Portugal, França, Inglaterra) e por diversos quadrantes profissionais (organismos internacionais, universidades, associações, administração pública).
Vivi, efectivamente, momentos muito fortes, de revolta aberta ou de subversiva resistência contra regimes e sistemas opressivos – políticos, económicos, culturais, financeiros … - como a Crise Académica de 1962 em Lisboa, a recusa da guerra colonial e o subsequente exílio de 11 anos, a rebelião da juventude no Maio de 68 em Paris, a ocupação em 1969 da London School of Economics, as grandes greves dos anos 70 em Inglaterra (que deixaram o país sem transportes, sem aquecimento, sem luz, durante semanas), e ainda o período pós-Abril de 74, na construção de um Portugal onde se pretendia mais justiça, mais cidadania, mais bem-estar e qualidade de vida.
Por isso, ainda ponderei, por momentos, a hipótese das memórias, o que me levou a vasculhar as caixas de documentação há muito tempo abandonadas à poeira do esquecimento. Em breve, porém, senti que era projecto que não me entusiasmava minimamente. E que estaria, de certo modo, em contradição com a principal evolução que vivi desde que me conheço até hoje, ou seja, um apagamento gradual do ego e da sua importância na minha maneira de ser e de fazer. Colocar agora a minha vida no centro das atenções – minha e de quem me lesse – não fazia sentido. No entanto, ao reler alguns dos escritos dos anos 70, tive a surpresa, e até a frustração, de descobrir uma chocante actualidade com os tempos difíceis que passamos hoje em Portugal.
Considerei, portanto, que poderia ser útil copiá-los e editá-los, juntando-lhes os demais trabalhos que fui produzindo até meados de 2012. São testemunhos de diferentes décadas e de contextos variados, centrados na minha inserção pessoal, cívica e profissional. Aqui, artigos de teor jornalístico; além, ensaios de maior exigência teórica; por vezes, manifestos de forte pendor político e programático. São diálogos formativos, são gritos de revolta, são conselhos de amigo, são apontamentos porventura úteis para estudantes, docentes, animadores e militantes, num estilo acessível, com um teor rigoroso e fundamentado, mas nunca neutro ou indiferente. E não falta o humor com que são condimentados muitos destes textos.
Esta colectânea de textos, que recebeu o título “Passagens Revoltas”, poderia também chamar-se (se utilizarmos um dicionário de sinónimos) “Mudanças Desalinhadas”, “Trechos Furiosos”, “Episódios Agitados”, “Excertos Desgrenhados” e por aí fora ao capricho das combinatórias possíveis. E é isso tudo também. As mudanças desalinhadas de espaço de vida e de situação socioeconómica, como as passagens, em 1963, de uma Lisboa onde nada acontecia para um Paris onde sucedia de tudo, até um mês de Maio vivido nas ruas; ou, em 1969, desse Paris e de um emprego bem remunerado na OCDE e a vida algo boémia e no limite da subsistência de um estudante de pós-graduação, com “bolsa de estudo” auto-atribuída (a Gulbenkian disse não), para a cinzenta mas bem-humorada Manchester de então; ou ainda a passagem-regresso, o salto de uma vida calma e profissionalmente compensadora em Milton Keynes e na sua Open University para o Portugal de 1974 que tudo prometia mas nada assegurava.
E são muitos os trechos furiosos, nascidos da irritação com a prepotência, com a estupidez, com a ignorância ou indiferença arrogantes, com a cumplicidade com que decisores e seus vassalos condenam os seres humanos e as suas sociedades a uma existência de incertezas e angústias, num contexto de carência geral e programada, para que uns poucos, e cada vez menos, possam acumular poder e riqueza à custa dos restantes 99%. Episódios agitados também os houve, desde as contestações estudantis e cívicas nos três países onde vivi até às sucessivas lutas institucionais para construir, a partir de dentro, isto é, do Ministério da Educação, um edifício coerente e apropriado de Educação de Adultos para o nosso país.
E “excertos desgrenhados” é o que também se aqui se oferece, nas mais de 500 páginas que compõem a obra. Para não parecerem tão desgrenhados, arrumei estes 70 e mais excertos em cinco categorias: Educação e (sobretudo) Educação de Adultos, EDU; Conflitos Políticos e Laborais, CPL; Animação Territorial e Desenvolvimento Local, ATDL; Cidadania Activa e Democracia Participativa, CADP; Crítica da Economia Dominante, CED. Os textos estão ordenados cronologicamente, mas o indicador inicial permite desde logo identificar a temática central, o que facilitará uma leitura mais selectiva.
ISBN | 9789728262075 |
Edição de | Associação In Loco |
Data de publicação | 31/08/2012 |
Idioma | Português |
Formato (fechado) | 150 x 230 mm |
Tipo de encadernação | Capa mole (brochado) |
N.º de páginas | 528 |
Grafismo da capa | Marco Martins |
Paginação gráfica | Marco Martins |
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